Murilo Benevides de Oliveira
Faculdade de Tecnologia e Ciências EaD
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Capa de José Guadalupe Posada para o
panfleto "El Grito de Libertad o Viva La
Independência". Neste panfleto, de 1900,
o padre Miguel Hidalgo, no centro, foi
representado liderando o movimento
popular pela independência do México
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Os ideais
iluministas que acarretou a Revolução Francesa e consequentemente fomentou a
independência dos Estados Unidos da América, teve grande influência nos
movimentos emancipacionistas dos povos hispano-americanos. Entretanto, as somas
das causas externas com as internas se tornaram às principais responsáveis
pelos movimentos que geraram diversas guerras e proporcionaram a independência
das colônias espanholas na América.
No século XVIII,
a Espanha se encontrava falida devido às guerras que assolavam o território
europeu. O rei Carlos IV da Espanha viu-se incapaz de resolver os problemas
diplomáticos e, para tentar reverter o quadro econômico, o rei espanhol
aumentou os impostos, acrescentou a venda de cargos na burocracia colonial e
executou inúmeras hipotecas impopulares. As decisões do rei deram início ao
afastamento da metrópole em relação à colônia. Porém foi após o início da
guerra contra os ingleses, quando perdeu o poder marítimo, que a Espanha deixou
transparecer a sua inutilidade aos colonos americanos.
No início do
século XIX, as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram a Espanha, tomaram o
poder e aprisionou primeiramente o Rei Carlos IV e posteriormente o seu filho,
Fernando. José Bonaparte, irmão de Napoleão, assumiu o trono espanhol. Os fatos
ocasionaram uma crise de legitimidade do poderio espanhol em terras americanas.
Enquanto as
juntas de governo se posicionavam contra o governo de José e afirmavam agir em nome de Fernando (herdeiro do trono), os colonos radicais passaram a
manifestar os princípios revolucionários de soberania popular e passaram a
defender a proclamação das repúblicas independentes, seja pela sensação de
abandono, devido à ausência do rei, que atingia mesmo os conservadores, bem
como a negação de qualquer junta metropolitana, levaram os colonos a refletirem
sobre a hora de emancipar.
Os movimentos
emancipacionistas foram liderados pela elite crioula (nativos descendentes de
espanhóis). A princípio não alcançou grande sucesso devido à falta de apoio das
massas populares e, até porque, os próprios crioulos não formavam um grupo
homogêneo. Entretanto, com a ascensão dos mestiços nas atividades
socioeconômica da colônia, eles passaram a lutar por melhores condições de vida e mais direitos políticos e econômicos, igualando os ideais dos crioulos.
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Padre Manoel Hidalgo liderou as primeiras manifestações
a favor da independência no Vice-Reino da Nova Espanha.
Sua retórica, no entanto, colocou os mestiços contra os
crioulos e suas manifestações foram reprimidas pelo governo
espanhol. Hidalgo morreu fuzilado.
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Segregados pela
hierarquia social, muitos mestiços tinham pouco ou nada em comum com a elite
descendente dos espanhóis. O único elo plausível era o local de nascimento:
as terras americanas. E foi justamente o nativismo que constituiu a pedra
fundamental para a construção do sentimento de identidade. E mesmo assim, tanto
as elites crioulas quanto as castas mestiças desconfiavam uma das outras.
A falta de
entendimento entre os nativos acarretou no fracasso das primeiras manifestações
de liberdade, na principal região sob domínio espanhol na América (No Vice-Reino da Nova Espanha).
Já nas áreas
periféricas, como a Região Platina (Argentina) ou a Venezuela, as desigualdades
entre as elites crioulas e as castas mestiças tiveram menos impacto, os únicos
obstáculo foram os grupos realistas, que eram fieis a Fernando. Mesmo assim,
após anos de luta contra os realistas, os crioulos conseguiram chegar ao poder
na Venezuela, primeiro com Francisco Miranda, depois com Simón Bolívar, O
Libertador, como ficou conhecido. Porém, as divergências internas, a oposição
do clero e dos realistas, que ganharam o apoio dos lleneros (vaqueiros mestiços
do interior), fizeram com que os revolucionários ficassem pouco tempo no poder.
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O alto de declaração da independência da Venezuela, de Martin Tovar, quadro pintado em 1883. A independência da Venezuela foi um processo longo, marcado por diversos acontecimentos. O quadro mostra o ato ocorrido em 5 de julho de 1811, na sala do Conselho Municipal de Caracas. No entanto, os espanhóis voltariam a conquistar a região. A independência só se efetivaria em 1819.
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Em 1814, com o
fim das Guerras Napoleônicas, Fernando VII voltou a assumir o poder da Espanha
e consequentemente passou a reprimir as rebeliões. Ele também revogou a
Constituição liberal de 1812, restaurando o absolutismo. A imposição do rei, entretanto,
atingiu tanto os espanhóis como os colonos. Na Espanha, a Revolução Liberal de
Cadiz enfraqueceu a autonomia da metrópole sobre a colônia. Na América os
patriotas tantos os crioulos como os mestiços passaram a sentir a necessidade
de se unirem para atingir um bem comum.
Anos antes,
Simón Bolívar havia retornado à luta na Venezuela. Contratou um exército
mercenário, bem como conseguiu atrair para o seu lado parte dos llaneros. Entre
1819 e 1821, o Libertador conseguiu libertar Nova Granada e depois a Venezuela:
Bogotá, Caracas e Quito.
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Simón Bolívar, Libertador e pai da nação, pintura
de José Figueroa, 1819. Expostana Casa Museu
Quinta de Boliívar, Bogota.A pintura foi elaborada
para celebrar a independência da Nova Granada,
a república foi representada como um índia.
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Neste meio
tempo, a Revolução Liberal de Cadiz acabou dividindo e enfraquecendo os grupos
de oposição ao movimento emancipatório. Devido às chances de conquistar a
liberdade, os patriotas passaram a contar com o apoio da Inglaterra e dos
Estados Unidos, que viam na “América Livre” um novo ambiente de investimento
financeiro.
Apesar de
conquistarem a vitória nos extremos Norte e Sul da América do Sul, os patriotas
encontraram resistência na elite crioula de Lima, traumatizada pelas rebeliões
indígenas da década de 1780, que manteve-se fiel à Espanha.
Ao sul, José Sam
Martin garantiu a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata em 1816,
depois atravessou os Andes e libertou o Chile. Feita a independência chilena
San Martin partiu para o Peru, onde, juntamente com a esquadra corsária de
lorde Cochrane, conseguiu bater os realista e ocupar Lima, proclamando a
República em 1821.
Entretanto as
forças metropolitanas reorganizadas encastelam-se no alto Peru (atual Bolívia).
Em julho de 1822 San Martín entra em acordo com Bolívar e retorna para a Região
da Prata. Tenente Antônio Jose de Sucre assume o seu lugar e em dezembro de
1924 captura o último vice-rei espanhol na América. Faltava apenas a rendição
da guarnição de Callao, ocorrida em janeiro de 1826. Afora Cuba e porto Rico, a
América espanhola estava livre.
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América espanhola emancipada
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A repercussão da
Revolta Liberal espanhola fez com que muitos realistas passassem para o lado
separatista. O próprio comandante das tropas espanholas, Augustín de Iturbide,
aderiu ao movimento e fez-se proclamar imperador do México. Porém, sua
indisposição com a Assembleia Constituinte levou-o a abdicação do trono. O
México tornou-se República Federativa semelhante aos Estados Unidos em 1923.
O processo de
Independência da América espanhola libertou uma imensa região, que devido aos
conflitos de interesses tendeu a fragmentação administrativa colonial. O fim
das lutas emancipacionistas foi apenas o início de outras lutas, agora entre as
oligarquias crioulas das diversas frações recém-libertas. A opressão e
exploração, sobre as castas raciais, que antes vinham da metrópole agora se
estendia dentro das lideranças da própria América. Porém, essa é uma outra
história.
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Como ficou dividida a América após a Independência |
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Grupo de índios, litogravura de Mariano Felipe Paz Soldán, 1863. Exposta na Biblioteca de artes decoratifs, Paris. Depois da independência, os índios perderam posse comunitária das terras e tiveram de se integrar, como trabalhadores assalariados, à economia de mercado.
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